Em meados do século XIX, o primeiro curta-metragem exibido chocou os espectadores ao mostrar uma locomotiva deixando a estação e se movendo de encontra à plateia. Mesmo que simples e sem contar com um enredo desenvolvido, o filme impactou quem o assistiu ao retratar a grandiosidade das novas tecnologias da época, o que contribuiu para seu reconhecimento até os dias atuais e deixa evidente a importância do público para a produção cinematográfica. No entanto, observa-se que, sobretudo no Brasil, nem todos dispõem do acesso aos cinemas, sendo que essa acessibilidade pouco democrática é fruto do descaso das empresas do setor e de brechas governamentais.
Em primeira análise, é indubitável que as próprias companhias cinematográficas contribuem para a persistência do problema. Isso, haja vista que essas empresas se instalam apenas nos grandes núcleos urbanos, tornando a população que ali reside privilegiada espacialmente e desvalorizando grupos periféricos ou de cidades pequenas, dificultando seu aceso às produções. Ainda, frequentemente cobram preços exorbitantes por ingresso, inacessíveis à grande parte dos brasileiros que se encontram em situação de baixa renda. Nesse contexto, Aristóteles afirma que “a base da sociedade é a justiça”, ou seja, o acesso ao setor cinematográfico deve ser justo e disponível para todos para que a comunidade em geral tenha bases sólidas no contexto cultural.
Ademais, é inquestionável que há uma falha nos órgãos públicos pertinente à problemáticas. Isso porque o governo não tem a questão da arte do cinema como prioridade, sendo incapaz de visualizar os filmes como importante fonte de cultura e entretenimento para toda a comunidade. Além disso, não fiscaliza as redes cinematográficas no que tange aos preços praticados e à disponibilidade dos serviços em outras regiões que não sejam centrais. Esse panorama da escassa atenção dada pelas autoridades confere uma quebra do Estado Forte de Hobbes, no qual o poder público deve garantir a ordem e o bem-estar social, o que não acontece quando esse órgão permite que parte da população não consiga acessar os cinemas, afetando o bem-estar dessa parcela.
Portanto, tem-se o Governo, órgão responsável pelas efetivas transformações sociais, como principal agente em prol de uma maior democratização do acesso ao cinema no contexto nacional. Esse poder público deve atuar na vistoria das redes de exibição cinematográfica, de modo a punir com embargos aquelas que praticam preços incompatíveis com a realidade da maioria da população brasileira e conceder incentivos fiscais às que se instalarem em regiões periféricas e em pequenos núcleos urbanos. Dessa forma, no intuito de fazer com que o maior número possível de pessoas consiga ir ao cinema, a entidade governamental se tornará o Estado Forte hobbesiano.
Autora: Júlia Alves de Souza Moreira
3ª série
Redação com 960 pontos no ENEM.