Atualmente, são incontáveis os casos em que mulheres em período de lactação são repreendidas por amamentar os filhos em público. A problemática gerou tamanha repercussão ao longo dos anos que finalmente culminou na aprovação da lei que proíbe essa repreensão do aleitamento em público por qualquer estabelecimento. Esse fato reflete o intenso estigma social que gira em torno da questão do pudor, que de qualquer maneira acaba no constrangimento da mulher e que persiste principalmente pela sociedade que a objetifica e não entende a importância da amamentação.
Em primeira análise, é indubitável que existe uma cultura que faz da mulher um mero objeto. Isso porque, historicamente, essa sempre foi vista aos olhos da população como necessária apenas à manutenção do fazer doméstico e à satisfação sexual masculina, sendo por muito tempo destituída de quaisquer papéis que não correspondessem a esses âmbitos, como o direito ao voto feminino, que só foi conquistado em meados da década de 1930 no Brasil. Consequentemente, nos dias atuais, boa parte da sociedade internaliza a exposição dos seios como um ato sexualizado mesmo que para o aleitamento, causando o constrangimento da mãe.
Ademais, é evidente que a mesma parcela da sociedade não enxerga a amamentação como algo vital. Isso haja vista que há a incapacidade de compreender que o leite materno é a principal e, no início da vida, a única fonte de nutrientes de uma criança, que sentirá a necessidade de se alimentar independente do lugar em que a mãe esteja. Dessa forma, o filósofo John Locke afirma que o ser humano dispõe de três direitos inatos e inalienáveis: à vida, liberdade e propriedade privada. Nesse contexto, o direito à vida do filho é ferido quando é impedido de obter alimento, e a liberdade da mulher é comprometida quando lhe são impostas regras sobre o próprio corpo que afetarão a criança.
Portanto, tem-se o direito da mãe de amamentar em público como essencial ao desenvolvimento da vida e imprescindível para evitar o seu constrangimento. Assim, a própria parcela da sociedade que vê o fato como algo impróprio deve se atentar para reconhecer o corpo feminino como fonte de vida necessária a toda criança e não como algo sexualizado. Só dessa maneira o aleitamento deixará de ser um estigma social e os direitos inalienáveis de Locke se consolidarão.
Aluna: Julia Alves Moreira
Turma: 3ª série
Professora: Priscila Toneli