A doação de órgãos é uma forma indiscutivelmente digna de ajudar a sociedade em que se está inserido. Aqueles diagnosticados com morte encefálica, por exemplo, são potenciais doadores, porém, no Brasil, o destino de seus órgãos não depende apenas do doador, mas também de sua família, que legalmente decidirá se haverá a doação ou não. O problema é que, ainda hoje, quase metade das famílias brasileiras ainda rejeita a doação de órgãos de um parente, realidade que precisa ser modificada a partir de uma mudança cultural na visão da sociedade sobre o assunto de nosso país.
Nos séculos iniciais da colonização brasileira, principalmente após 1600, o Brasil dominado pelos portugueses também passou a ser dominado ideologicamente pela instituição predominante na Europa: a Igreja Católica. Os jesuítas vieram ao chamado novo mundo para catequizar os indígenas, e um dos dogmas incorporados na raiz cultural de nosso país foi a ressurreição, ou seja, a crença de que ressuscitamos após a morte no mesmo corpo. Portanto, até os dias atuais, inconscientemente, somos influenciados por tal ideologia, um fator cultural que implica uma suposta necessidade de conservar o corpo dos falecidos, o que é feito ainda por muitas famílias.
Dessa forma, é indubitável a necessidade de uma mudança cultural para que as famílias como um todo aceitem o processo de doação de órgãos dos parentes. Segundo o pensador Emanuel Kant, somos o que nossa educação faz de nós do ponto de vista sociológico. Tendo isso em vista, é claro o papel da educação na formação do indivíduo não só como profissional, mas como ser humano e, consequentemente, na formação de seus ideais, ainda mais em relação a essa questão da doação de órgãos.
Ainda levando em consideração o papel da educação com relação à formação individual, pode-se afirmar que a educação brasileira falha ao não ensinar os benefícios desse tipo de ato aos futuros doadores ou familiares de um doador em potencial. Isso dificulta o aumento na taxa de famílias que aprovariam as doações e é ainda a principal barreira na doação de órgãos no Brasil, já que a doação somente pode ser autorizada pela família daquele que poderia doar.
Em síntese, dada a necessidade da aprovação familiar e o caráter cultural dos empecilhos para a doação de órgãos no Brasil, são urgentes medidas governamentais para o combate. É dever do Ministério da Educação implementar no currículo escolar obrigatório noções acerca da doação de órgãos e seus benefícios: salvar vidas ou melhorá-las sem prejudicar a ninguém. Essa implementação, a longo prazo, formará indivíduos capazes de compreender a relevância da questão que, sendo futuros doadores ou parentes de doadores, farão a diferença. E, assim, estaremos educando uma nova geração de mentes pensantes que superará as barreiras com relação à cultura e que se tornarão futuros salvadores de vidas.
Aluna: Anaclara da Silva Reis
Turma: 3ª série – Ensino Médio
Profa. Dra. Priscila Toneli