A dois dias do início do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), informações desencontradas sobre a logística da prova podem colocar em risco a segurança do processo. Coordenadores de aplicação de diferentes locais do Brasil relataram três versões de como as provas sairão da guarda do Exército, onde estão protegidas à espera do exame, e chegarão às escolas para a aplicação. O Inep, responsável pela prova, nega divergências.
O Estado ouviu nove coordenadores. Segundo o relato de uma professora que vai trabalhar na cidade pernambucana de Petrolina, as provas serão retiradas da guarda do Exército pelos coordenadores no sábado, às 7 horas, e ficam sob a responsabilidade deles até as 10 horas, quando devem estar nas escolas.
“Os chamados ‘chefes de prédio’, responsáveis por coordenar a aplicação dos exames, estão autorizados a retirar todos os cadernos de perguntas que serão usados nas instituições em que vão trabalhar”, conta ela. “Daí em diante, o que cada um faz com as provas, se leva para casa, se deixa no carro, é responsabilidade dele.” São 38 chefes de prédio na cidade.
Foi no município pernambucano que, no ano passado, o vazamento do tema da redação do Enem foi apontado pela Polícia Federal. Dois professores da cidade de Remanso (BA) teriam tido acesso à prova e repassado informações ao filho, que fez o exame em Petrolina. O estudante teve a prova cancelada, mas como o Ministério da Educação considerou o vazamento um “evento isolado”, o exame foi validado.
Horário. A coordenadora de Petrolina, com duas décadas de docência, afirma que na cidade vizinha Juazeiro, na Bahia, o esquema é o mesmo. “Ou seja, toda a preocupação do governo federal com o sigilo das provas fica inútil a partir das 7 horas.”
As provas, neste caso, só devem chegar às unidades de aplicação às 10 horas. É diferente do relatado por uma coordenadora em Aracaju: na capital sergipana, as provas chegam às 7 horas.
Em Araçatuba, cidade paulista a 530 km de São Paulo, a regra é outra, segundo relato. As provas também devem chegar aos locais do exame levadas por coordenadores. Uma coordenadora, que não quis se identificar, disse que as caixas lacradas com as provas chegam ao município e são guardadas em uma sala comercial alugada, onde ficam até o dia do exame.
O Inep nega divergências no processo. Segundo o órgão, todo o transporte é feito por funcionário dos Correios – empresa contratada para a logística de transporte. A versão foi uma das relatadas por coordenadores de outras regiões do País.
Apesar de não revelar detalhes do procedimento, o Inep afirma que as regras são idênticas em todas as cidades. Segundo o órgão, o treinamento teve o objetivo de garantir a padronização. Ao todo, são 435.065 pessoas envolvidas. Além de fiscais e aplicadores, há coordenadores estaduais, municipais e de unidade de aplicação.
Fonte: O Estado de S.Paulo