“Conhecimento que forma e transforma”

13 de agosto de 2018 - 19:03:00. Última atualização: 23 de julho de 2019 - 11:03:52

O conhecimento é como um caleidoscópio. Podemos enxergar diferentes verdades; podemos escolher mais de uma perspectiva de análise e reflexão e cada uma terá sua lógica, seu fundamento, sua defesa, em parte porque projetamos no conhecimento nosso olhar que é parcial, nossas escolhas e nossa experiência.

A atração que sentimos pela variedade produzida por tal caleidoscópio é tamanha que, ainda que os maiores argumentos da razão consistam exatamente na imposição de limitações sobre nossa capacidade de conhecer, insistimos em fazê-lo.

Kant (1781), por exemplo, revelou através da noção de crítica transcendental, a impossibilidade de conhecer os objetos em si. Hume (1748), com suas teses sobre a indução, argumenta que toda verdade indutiva é provável mas não necessária. Suspendeu assim para sempre a fé total no raciocínio científico. Gödel (1931), ao demonstrar com seus dois teoremas da incompletude que qualquer sistema forte o suficiente para expressar a aritmética de Penao é tal que não pode provar sua própria consistência e garante a existência de verdade indemonstráveis, expõe que nem mesmo em nossa área mais bem acabada do saber, a Matemática, somos capazes de acessar o conhecimento total.

Eventos como da passagem do Aristotelismo para a teoria Copernicana, onde alterou-se a forma total de entender a física ou aquela da mecânica clássica para a quântica, onde percebemos que as teorias clássicas aparecem como aproximações macroscopicamente válidas de modelos quânticos, vem escancarar que a maior parte do conhecimento humano, além de possuir escopo pequeno, é incerto. Tudo aquilo que já foi considerado a melhor ciência de uma época foi superado, muitas vezes de forma não conservativa.

Se a busca pelo saber sobreviveu a todas estas restrições parece ser porque a curiosidade é uma característica intrínseca à humanidade.

O ser humano desafia a si mesmo na procura de conhecer mais e mais. O homem está condenado a buscar a superação através do conhecimento de forma intensa e infinita. Sartre (1978) afirma que o homem “está condenado a ser livre”. Nesse processo assume a condição de desbravar o mundo na busca por extrair positividade de sua negatividade, alcançar liberdade de sua prisão, encontrar o silêncio pacificador de seu desespero ruidoso.

Dadas as limitações em nossa capacidade de conhecer, bem como nossa existência finita associadas a esse caráter volátil do saber, percebemos que o conhecimento se dá, não durante um curto período de tempo, mas ao longo da vida.
Não apenas tal processo é mutável, mas o próprio homem se apresenta complexo e processual, alguém cuja vida é composta por fenômenos que nunca cessam. O ser humano borbulha, lateja, pulsa, está em constante transformação. É enxurrada de dúvidas e certezas. Até seu fim, nunca apresenta-se pronto ou acabado.

Como há tantas possibilidades quanto concepções daquilo que é possível, nada é certo, em absoluto. Somos potencialmente bons ao mesmo tempo que potencialmente maus. Segundo Arduini (2004) “Por não estar totalmente determinado, o homem é essencialmente mutável. É Metá-noia, termo grego que significa “mudança” no pensar, no sentir, no agir, no conviver.”

A leitura, o diálogo e a reflexão surgem então como pegadas e ao mesmo tempo pistas, que nos levam pelo caminho da superação da ignorância e edificação da vida frente as inquietudes do conhecimento posto.

Neste sentido, qual o papel da leitura para alcançarmos respostas no desafio da superação? Conhecimento leva-nos a evolução, mas também a regressão. Na procura da classificação do inclassificável e generalização daquilo que é único, expomo-nos. Assim, a leitura dos mais
diferentes tipos de textos aparece como o início de um processo sem fim de construção de saberes.

O homem, em sua busca incessante por respostas e certezas assume como verdade elementos aprisionadores da alma e os questiona. Nutrindo a vida de conhecimentos e dúvidas.

Conscientes disso, o Colégio Nossa Senhora das Dores não tem a pretensão de responder com certezas os questionamentos apresentados, mas de aguçar as almas de nossos alunos com dúvidas que libertem suas mentes.





Djalma Gonçalves Pereira 
Licenciado em Matemática; Mestre em Educação; Doutorando em Educação; Coordenador Pedagógico do Ensino Médio do CNSD.


Pedro Martins Pereira  
Graduando em Filosofia pela UnB; ex-aluno do CNSD.  

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