Benedito Lacerda

24 de fevereiro de 2012 - 16:02:00. Última atualização: 23 de julho de 2019 - 11:00:43

Benedito Lacerda, instrumentista, compositor e regente, nasceu em Macaé/RJ, em 14/3/1903, e faleceu no Rio de Janeiro RJ, em 16/2/1958. Aos oito anos de idade começou a aprender flauta de ouvido. Iniciou as atividades musicais, em sua cidade natal, como integrante da banda Nova Aurora.

Aos 17 anos transferiu-se com a família para o Rio de Janeiro e passou a tomar lições de flauta com Belarmino de Sousa, pai do compositor Ciro de Sousa. Filho da lavadeira Dona Lousada, Benedito sempre foi muito ágil em suas questões.

No Rio, EM 1920 – residiu no Estácio, famoso por seus sambistas e batuqueiros. Estudou também no I.N.M., diplomando-se em flauta e composição. Para garantir o sustento, em 1922 ingressou na Polícia Militar, onde podia também continuar sua atividade musical, participando, de 1923 a 1925, da banda do batalhão.

Une sua vivência em bandas de música no interior do estado (pelo menos dez anos) ao convívio com músicos da capital, principalmente os chorões e sambistas do Estácio. Em pouco tempo no posto de flautista da corporação passa numa prova em primeiro lugar para flautista de primeira classe ao tocar toda a parte de flauta do “Guarany” de Carlos Gomes.

Por esse tempo estudou flauta no Instituto Nacional de Música com Belarmino de Sousa, pai do compositor Ciro de Sousa. Benedito ficou cinco anos na carreira militar, e, em 1927 pediu baixa e mergulhou música popular.

Em 1928 foi tocar com o grupo regional Boêmios da Cidade, acompanhando Josephine Baker, tocando em cinemas, orquestras de teatros, dancings, cabarets. Atuou também como saxofonista em algumas orquestras de Jazz.

Em 1929 integrou um grupo regional, os Boêmios da Cidade, com o qual foi a São Paulo SP chegando a se apresentar com Josephine Baker. No mesmo ano, com o advento do cinema falado, passou a tocar em grupos de choro, como flautista, e em orquestras de Jazz, como saxofonista.

Como não concordasse com a maneira de as orquestras de Jazz executarem a música brasileira, resolveu organizar um grupo de músicos que acompanhassem com fidelidade o ritmo brasileiro.

Criado no início da década de 1930, incluía, além dele próprio, Canhoto, Russo do Pandeiro, Macrino, Bernardo e Doidinho. Foi o compositor Sinhô quem batizou o conjunto de Gente do Morro, depois de ouvir sua interpretação em disco Brunswick dos sambas No Sarguero (com Ildefonso Norat) e Dá nele (Sinhô), pelo desempenho da percussão, com breques e batuques, e pelos seus ponteios de flauta.

Nesse conjunto, famoso pelas invenções harmônicas que fazia com o samba, atuava como regente, além de executar solos e cantar. Como cantor, gravou sete composições pela Brunswick, com o Gente do Morro. Além do acompanhamento de diversos cantores, o grupo fez gravações, não só na Brunswick, como também na Columbia e na Parlophon.

Em 1930, Gente do Morro lançou um disco, pela Brunswick, que incluía Tem agüinha (J. Machado), interpretada por ele, e A nega sumiu (de sua autoria), em dupla com Sílvio Caldas. Ao findar os anos vinte e iniciar a década de 1930 Benedito Lacerda organizou um grupo com ritmos brasileiros, batizado de Gente do Morro.

O “Gente do Morro” caracterizava-se pelos efeitos de percussão, convensões espertíssimas e solos de flauta. O grupo durou pouco e fez uma viagem á Campos acompanhando Noel Rosa.

Pouco tempo depois, o grupo se desfez, para ressurgir transformado no famoso Conjunto Regional de Benedito Lacerda, caracterizado não mais pela percussão, mas pelos efeitos das instrumentos de sopro e de corda.

Em sua primeira formação, era integrado por ele (flauta e líder), Gorgulho (Jaci Pereira) (violão), Ney Orestes (violão), Canhoto (Valdiro Frederico Tramontano) (cavaquinho) e Russo do Pandeiro (pandeiro).

Depois de sofrer algumas mudanças, como a substituição
de Gorgulho por Carlos Lentine, a partir de 1937 o grupo se estabilizou com ele próprio na flauta, Dino e Meira nos violões, e Popeye no pandeiro.

Com essa formação atuou até 1950, quando se retirou e Canhoto assumiu sua direção, transformando-o no Regional da Canhoto.

O Conjunto Regional de Benedito Lacerda, novamente chamado Boêmios da Cidade quando gravava em gravadoras das quais não era exclusivo, acompanhou grandes intérpretes, entre os quais Francisco Alves, Sílvio Caldas, Orlando Silva, Carmen Miranda e muitos outros.

Em 1933, ingressou na Casa de Caboclo, fundada por Duque. Além de grande instrumentista, foi compositor de sambas, valsas, marchas e choros. Compôs no Carnaval, para o Clube Tenentes do Diabo, ao qual pertencia, a marcha Vai haver o diabo (com Gastão Viana), que se tornou uma espécie de hino de um novo grupo que se formou no clube e que tinha o mesmo nome da música.

Ainda em 1933, venceu um concurso do jornal A Noite, com a composição junina Briguei com São João, ganhando como prêmio uma flauta de prata, que sempre conservou consigo.

Também na década de 1930, com a ascensão do rádio no Rio de Janeiro, apresentou-se em quase todas as emissoras que surgiam, entre elas a Rádio Guanabara e a Rádio Philips, e na Rádio Tupi, onde atuou durante alguns anos.

Em 1934 compôs com Jorge Faraj a valsa Lela, iniciando com o compositor uma fértil parceria. Em 1936, ao lado de Francisco Alves e Carmen Miranda, participou dos espetáculos de inauguração da Radio El Mundo, de Buenos Aires, Argentina.

Um dos maiores sucessos do Carnaval de 1935 foi sua marcha Eva querida (com Luís Vassalo), gravada por Mário Reis. No ano seguinte, obteve êxito igual com a marcha Querido Adão (com Osvaldo Santiago), gravada por Carmen Miranda.

No Carnaval de 1939, em parceria com Humberto Porto, compôs mais um sucesso, a marcha Jardineira, que, gravada por Orlando Silva, levantou polêmicas em relação a sua semelhança com uma composição do início do século.

Paralelamente às suas atividades de compositor, continuava sua atuação como instrumentista e líder. Por volta de 1940, na época áurea dos cassinos, apresentou-se com seu regional no Cassino da Urca e no Cassino Copacabana.

Nessa época, como flautista e ao lado de Pixinguinha no saxofone, gravou, com acompanhamento de seu regional, uma série de choros, cuja parceria, segundo consta, teria sido dada, na sua maioria, por Pixinguinha, pela divulgação que vinha fazendo de sua obra.

Entre os choros gravados na Victor (na época, dirigida por ele), destacam-se Naquele tempo, Sofres porque queres, Proezas de Sólon, Só para moer, Canhoto, Descendo a serra e Um a zero.

Com Pixinguinha, excursionou por todo o Brasil, criando uma nova maneira de tocar, com a flauta fazendo a primeira voz e o sax a segunda, em contraponto; e perpetuou uma série de gravações antológicas em parceria de flauta e sax com Pixinguinha, privilegiando o repertório de choro.

Por conta do trabalho que a dupla empreendeu em cerca de 40 gravações mais as edições de músicas e lançamentos de álbuns de partituras Benedito fez com que a hipoteca da casa de Pixinguinha fosse paga e salvou o mestre de ser despejado.

Em sinal de gratidão e por motivos de contrato, São Pixinguinha transformou Bené em parceiro de pérolas como: “Sofres por que queres”, “Naquele tempo” e “Um a zero” (esta feita muito antes por ocasião do gol de Friedenreich no Campeonato de Futebol Sul-Americano de 1919).

Ainda em 1940, em parceria com Aldo Cabral, com quem fez outras músicas, compôs Despedida de Mangueira, samba que fez grande sucesso no Carnaval, gravado por Francisco Alves.

Nesse mesmo ano, venceu o concurso carnavalesco promovido pela prefeitura, com a marcha Lero-lero (com Eratóstenes Frazão ), gravada por Orlando Silva.

Em 1942 foi um dos fundadores da UBC. Em 1944 foi novamente vitorioso no concurso do Carnaval, dessa vez nos gêneros marcha, com Verão no Havaí (com Haroldo Lobo), gravada por Francisco Alves, e samba, com Ninguém ensaiou (com Haroldo Lobo), gravado por Araci de Almeida.

Venceu ainda o concurso da prefeitura carioca em 1946 com a marchinha Espanhola (com Haroldo Lobo).

Em 1948, o samba Falta um zero no meu ordenado (com Ary Barroso) foi grande sucesso na interpretação de Francisco Alves. Em 1947 transferiu-se para a SBACEM, da qual foi eleito presidente em 1948 e reeleito em 1951.

Em 1950, Francisco Alves gravou seu samba A Lapa (com Herivelto Martins), que foi muito cantado no Carnaval. Sua última marcha de sucesso foi Acho-te uma graça (com Haroldo Lobo e Carvalhinho), que, lançada pelo animador e cantor César de Alencar no Carnaval de 1952, foi premiada pela prefeitura.

Mas o que importa é destacar os arranjos e contrapontos executados pela dupla, que revolucionaram a instrumentação brasileira e influenciaram até hoje os novos talentos musicais.

Foi compositor de carnaval premiado e pela atuação como fundador da União Brasileira de Compositores (UBC) e dirigente da Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música (SBACEM). Morreu no Rio de Janeiro, vítima de câncer de pulmão, antes de completar 55 anos.

Jardineira
Oh! jardineira, por que estás tão triste?
Mas o que foi que te aconteceu?
– Foi a camélia que caiu do galho,
Deu dois suspiros e depois morreu.

Vem jardineira! Vem meu amor!
Não fique triste que este mundo é todo teu.
Tu és muito mais bonita
Que a camélia que morreu ……

Fonte: Letras.com.br

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