No contexto das comemorações dos 170 anos da Congregação das Irmãs Dominicanas de N. Sra. do Rosário de Monteils e dos 135 anos de sua missão no Brasil, exaltamos um patrimônio da família dominicana-anastasiana e da cidade de Uberaba: a Capela do Colégio Nossa Senhora das Dores.
O local completa 90 anos em 2020. As Irmãs e as alunas, desde o início do Colégio, faziam suas orações em um singelo e pequeno espaço que existia no pátio da instituição. Nos anos de 1926 o educandário contava com 800 alunas e era dirigido pela Madre Maria Eugênia Taurnomire. Para melhor acolher as religiosas e as alunas, as Irmãs resolveram erguer uma Capela. O projeto de responsabilidade do Frei Raimundo Afonsi e a Irmã Victoriana, apresenta um estilo arquitetônico neorromânico surgido no século XIX. A construção contou com a colaboração do Padre Everard – engenheiro e arquiteto atuante em Água Suja (atual Romaria) e dos engenheiros Santos Guido (italiano) e o uberabense Carlos Biela, que assumiu o projeto em 1929. O orçamento inicial foi um obstáculo a ser superado, pois era superior ao aprovado pela Madre Geral. Para cobrir a diferença, as Irmãs contaram com a generosidade de ex-alunas e com um empréstimo realizado em São Paulo – SP, pago em um ano.
Em 1930, o Brasil e o mundo viviam um tempo de desafios socioeconômicos e políticos, devido aos efeitos da crise de 1929 e as instabilidades e incertezas da “Revolução” de 1930. Naquele ano, fortalecendo o ideal de Domingos e Anastasie, em 27 de novembro – solenidade de N. Sra. das Graças – as Irmãs inauguraram a Capela. A bênção do espaço sagrado, contando com as presenças da diretora Madre Maria Maximinia, da fundadora do Colégio Madre Maria José e das demais Irmãs Dominicanas e convidados, foi dada por D. Luiz Maria de Santana, bispo da Diocese de Uberaba. A ornamentação da obra continuou gradativamente e, em 1937, finalizaram-se os trabalhos do teto e da sacristia.
A exemplo da Igreja São Domingos, o material utilizado na base da obra foi a pedra tapioganga, típica da região do Triângulo Mineiro, sem revestimento. Os tijolos à vista contribuíram para criar um clima de inspiração europeia. Na fachada, a torre única, as empenas “apontadas”, as rosáceas e o telhado bastante inclinado são indicadores do estilo arquitetônico neorromânico. Com planta em cruz latina, apresenta altar-mor em um braço e coro em outro, com a mesma profundidade. Dois altares laterais estão colocados nos braços de menor profundidade da cruz. O piso em ladrilhos hidráulicos e o teto abobadado em “meia cana”, com decoração em quadros com motivo central e aplique. Os tijolos, fabricados em Uberaba, com marca de gado, demonstram o momento ora vigente da cidade: período em que o zebu era o centro da economia local. As telhas vieram diretamente de Marselle, na França, e trazem o símbolo das Irmãs Dominicanas, pois foram feitas, exclusivamente, para tal fim. Embora diversas alterações tenham sido realizadas no decorrer dos anos, a essência permaneceu: espaço de acolhida, de oração, de contemplação e de celebração.
As galerias e mezanino da Capela, com arte sacra e litúrgica, abrigam o acervo de um Museu que, desde 1950, preserva importantes peças da trajetória da Congregação, bem como da história da educação, da saúde e das ações sociais, do século XIX aos dias atuais. Como um marco de missão secular de fé e de educação, em toda a sua amplitude, o sacro espaço testemunha o trabalho das Irmãs Dominicanas e representa parte do extenso legado religioso e cultural deixado por essas pioneiras que, inspiradas por Madre Anastasie, vivenciam o ideal: “o essencial de nossas vidas é que fique em algum lugar o fruto de nossa bondade”.
Professor de História e Ensino Religioso no Colégio Nossa Senhora das Dores. Uberaba – MG.