O autor continua a se fazer ouvir em época de diversão eletrônica. Suas histórias são imperdíveis e o lobatólogo Vladimir Sacchetta explica o motivo.
“Monteiro Lobato era do tipo inquieto, alguém que tinha interesse por tudo”, diz Vladimir Sacchetta |
Muito antes de se falar em ecologia, Monteiro Lobato chamava a atenção, em meados de 1910, denunciando as queimadas no interior paulista pelas páginas de um jornal. O autor de Reinações de Narizinho queria um Brasil forte, justo – e, ao longo da vida (1882-1948), defendeu a prospecção do petróleo, a implantação de medidas sanitaristas ou a causa que entendia necessária para o progresso do País. Conseguiu irritar governos e interesses estrangeiros, sendo preso mais de uma vez. Um polemista, em síntese.
Lobato amava o Brasil – e amava demais as crianças. A ponto de ter produzido, com prosa fácil e imaginação ilimitada, dezenas de histórias ambientadas em um universo particular, o Sítio do Picapau Amarelo – é considerado o criador da literatura infanto-juvenil brasileira. “Lobato é o nosso La Fontaine, o pai do faz-de-conta nacional”, define Vladimir Sacchetta que escreveu, ao lado de Carmen Lucia de Azevedo e Marcia Camargos, “Monteiro Lobato, Furacão na Botocúndia” – espécie de Bíblia sobre vida e obra do escritor nascido em Taubaté (SP). “Ser lobatólogo é uma militância”, admite. “E o Brasil tem de se orgulhar de Lobato.”
Vladimir Sacchetta desafia quem consiga encontrar uma criança que não esteja de algum modo familiarizada com a Emília, o Pedrinho, a Narizinho ou outro morador do sítio. “São personagens que já pertencem ao nosso imaginário infantil”, diz. Também tem certeza de que o interesse da garotada por essas histórias continua incólume, mesmo em época dominada pela tecnologia. “Pode ocorrer certa dificuldade para entender palavras em desuso, mas até isso é importante porque estimula a consulta ao dicionário”, comenta. Só demonstra impaciência, quando lembra que a obra de Lobato correu risco, meses atrás, de ser banida das escolas em razão do tratamento “preconceituoso” à raça negra que aparece em certos trechos. “É uma grande bobagem ler as má-criações que a Emília fazia com a Tia Nastácia, em histórias escritas na década de 30, com os olhos de hoje”, alerta. “O educador não deve alterar, mas sim explicar para a criança que fazer isso é inadmissível nos dias atuais.” Exatamente o que o Conselho Nacional de Educação recomendou ao encerrar a discussão: o uso do bom senso pelo professor em sala de aula, contextualizando o que há de polêmico na obra de Monteiro Lobato.
Leia a entrevista de Vladimir Sacchetta.
Fonte: Educar para crescer
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