O sol apareceu, e, por sinal quente, desperdiçando preguiça. E eu aqui tentando me levantar, mas as dores chegaram. Ai! É preciso alongar, esticar os braços, as pernas, o pescoço precisa girar, ahahahah, não somos corujas, né. Mas temos que treinar, disciplinar, despreguiçar o corpo e a alma, senão as dores continuarão.
Fiquei observando, bem cedinho, os animais. Sabia que eles se alongam e muito. O galo estica as pernas e as asas e espera alguns segundos. O cachorro põe as duas patinhas na frente do corpo e estica, estica a coluna e espera também alguns segundos. E assim foi despertando o meu olhar para a rolinha, a lagartixa que chega a colocar a pata sobre a cabeça.
É muito interessante como é a evolução e a conservação da natureza que se refaz a cada chegada da morte. Ela se recompõe tão naturalmente que o velho se vai e o novo brota com força total.
E quão podemos aprender com os animais, aliás, o que aprendemos com eles está na história. A fila, por exemplo, a fila provavelmente veio dos animais e quantos deles fazem filas… O gado faz fila para caminhar, no meio do pasto. Fazem uma trilha, e ainda são disciplinados, caminham nela todos os dias. As formigas também fazem fila e quando tentamos desviar o caminho delas, ficam tontas, desorientadas, perdidas, até reencontrar outro caminho, sofrem, mas não desistem e acabam encontrando no próprio obstáculo um fio que retorna ao mesmo caminho.
Assim também nos refazemos enquanto humanos, é preciso tempo para captar a alma do outro. Antes de tudo, voltemos ao início do texto, é preciso vontade de modificar as nossas ações, sem preguiça, com disciplina. Sei que é difícil porque cansamos, porque estamos trabalhando demais, porque temos compromisso além do horizonte, mas até isso é essencial revermos, será que não estou desperdiçando o meu tempo?
É preciso tempo para alongar de verdade o corpo e a alma.
[Esta crônica faz parte de um livro que ela está escrevendo]