“Semeando esperanças para concordar com a vida”

25 de setembro de 2013 - 15:16:00. Última atualização: 23 de julho de 2019 - 11:02:06
A vida é muito
curta para ser pequena
Benjamin
Disraeli
Quando refletimos sobre
esse tema e essa frase, vêm-nos à mente o significado da palavra concordar que, originada do latim, cum cor, quer dizer colocar o coração
junto; onde e com quem estamos colocando nossos corações? Junto a quem? Junto a
quê? Estamos concordando com quem? Com o quê? Paradoxalmente, se eu não estou
concordando, o que faço com as minhas discordâncias? Ou melhor, para que servem
as minhas discordâncias?
Esta é a primeira parte
das reflexões que aqui farei, com a intenção de nutrir os leitores com
sentimentos de esperança e reverência pela vida.  Vida que a cada lua cheia mostra-se em
discordância com a esperança. Não por ela, mas por quem a faz. Ou por quem a
cria e conduz: nós, humanos. Quando coloco o coração junto daquilo que faço,
daquilo que penso ou sinto, metaforicamente estou colocando nessa trama o amor
– ingrediente necessário para o conforto e manutenção dos vínculos humanos. Afinal,
não nascemos humanos, nos tornamos humanos. A humanidade cresce e se faz em nós
à medida que nos aquecemos nas mais diversas situações da vida; quando nos
sentimos ameaçados ou quando nos sentimos amados, quando doamos ou quando
recebemos. A humanidade e a humanização se fazem em nós. Humanizar é acolher a
necessidade de resgate e articulação de aspectos indissociáveis: o sentimento e
o conhecimento. Humanizar é tornar-se humano, adquirir novos hábitos, mais
apropriados e factíveis, sob o foco da ética e da moral, distanciando-se da
ignorância e da estupidez, da intolerância e da prepotência e, principalmente,
da indiferença.  
A humanização está amarrada
à espiritualização do ser; são inseparáveis, é a ordem do milênio.
A cultura que predomina ao nosso redor
caracteriza-se, ainda, por considerar as pessoas meros recursos que devem
contribuir para o alcance dos objetivos de um determinado sistema. Humanização
e espiritualização andam na contramão disso. Representam a
assimilação
de características mais amorosas e conscientes, para consigo e também para com
o outro, sempre. É semear esperanças para concordar
com a vida
,
começando por arregaçar as mangas para
sensibilizar-nos para a árdua tarefa de trabalhar como operários na construção
das bases de um mundo de amor. E nós, educadores, nos incluímos nesse rol de
operários?
Vivemos hoje um novo
tempo
que deverá,
indubitavelmente, conduzir a efeitos salutares à nossa coletividade humana,
criando entre nós o período da atitude. O velho discurso sem
prática deverá ser substituído por efetiva renovação pela educação moral. É a
etapa da espiritualização individual, da depuração emocional e da busca
incessante de sentido para a vida, na qual a ética do amor será eleita como meta essencial, e a educação como o passo seguro na
direção de nossas finalidades.
Segundo o educador Hugo
Werneck, considerado por muitos o pai da educação ambiental no Brasil, nossa
crise é de valores e não de conhecimento. Valores esses que estão sendo
trocados por pequenas moedas da conveniência. A lucidez da atitude exige
ousadia e dinamismo, além do sacrifício (que está longe de ser sofrimento) para
encetar as mudanças imperiosas no atendimento dos reclames da hora presente.
Hora essa que pede o cum cor –
colocar o coração junto. 
A sensação que tenho é
que continuamos com os olhos vendados, mesmo fazendo nosso tour pelas ruas e avenidas da vida. E a incoerência está no risco
que corremos, por nossa própria conta, em percorrermos caminhos às escuras,
visto que estamos com os olhos vendados. Nosso maior inimigo, de fato, é o
orgulho em suas expressões inferiores de arrogância, autoritarismo,
perfeccionismo, intolerância, preconceito e vaidade, frutos infelizes que, sem
dúvida, insuflam e incentivam a des-humanização,
adubando as sementes do joio.
Falo aqui das sementes
da esperança, do trigo e da vida. Nossa luta deve ser íntima; não é uma luta
contra sistemas ou organizações, mas contra nós mesmos. Acostumamo-nos a
venerar a vida em favor de vantagens pessoais. Quando formos bons, faremos boas
as nossas organizações e os nossos sistemas. E a educação inclui-se nisso.  Aliás, a educação é a base e o topo disso –
ela é o centro de convergência. Não podemos mais adiar esse encontro. Sob pena
de perecermos antes.  O inimigo confesso
está dentro de mim, e a pergunta que não cala é: o que eu tenho feito, que
medidas eu tenho tomado para escapar-me da omissão de não expurgá-lo?
Determinação e coragem
para fazermos a travessia. Amor que concorda; atitude que acorda. A melhor
instituição será a que mais expandir as condições para o amor. O melhor ser
humano será o que mais apresentar tenacidade em amar. A melhor escola será a
que mais vivenciar o relacionamento entre as pessoas que ali convivem,
imprimindo a seus deveres o caráter de educação e espiritualização de todos.
Para que todos se vejam (e ajam) como heróis da moralidade e guardiões de
princípios, semeando e exalando o hálito da esperança para concordar com a
vida.
RENATA
GAZZINELLI, pedagoga, especialista em Educação, pós-graduada em Educação Ambiental
e Sustentabilidade, MBA em Gestão de Instituições Educacionais, Gerente de
Relacionamento da REDE PITÁGORAS.
  

Renata será a palestrante da próxima Escola de Pais CNSD que acontecerá nesta sexta-feira (27), às 19h30 no Centro de Convenções.

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