Crianças obesas: quem se importa?

20 de fevereiro de 2014 - 11:03:00. Última atualização: 23 de julho de 2019 - 11:02:26

Começamos essa matéria com a repetição de uma estatística que evidencia a
preocupação da Organização Mundial Saúde (OMS) quando alerta para uma epidemia
de obesidade: uma em cada três crianças brasileiras de 5 a 9 anos está acima do
peso. Por mais que esse número seja repetido à exaustão, pediatras,
nutricionistas e endocrinologistas afirmam que a cada dia recebem mais pacientes
nessas condições. Pesquisa recente da UFMG reforça o alarde: 39% dos alunos de
escolas particulares de BH estão acima do peso (saiba
mais
)
.

De quem é a culpa? A reposta pode levar a um dos grandes
dilemas atuais da sociedade. Sabemos que família e escola são os principais
atores para incentivar hábitos alimentares saudáveis. Mas outros fatores
influenciam esse consumo e talvez um dos mais perversos seja a publicidade
dirigida a meninas e meninos. Com discurso sofisticado, associa alimentos muito
calóricos e poucos nutritivos ao universo infantil e dificulta a negativa dos
cuidadores. Além de a relação com a comida passar culturalmente pelas
demonstrações de afeto e amor, não é fácil – e quem é pai ou mãe sabe muito bem
disso –, lutar contra o fluxo consumista que pauta a contemporaneidade.

Diante desse cenário de urgência, o Saúde Plena aproveita o início do ano
escolar e convida seus leitores a refletir sobre os caminhos para solucionar
essa questão de saúde pública. Minas Gerais conta com a Lei da Merenda Saudável
nº 18.372, de 4 de setembro de 2009. Ainda não conhece? Clique e leia. Em tramitação há mais de oito anos, o
Projeto de Lei do Senado nº 406 de 2005, que proíbe alimentos não saudáveis nas
escolas de todo país, pode ser votado em 2014 (conheça o projeto). Ele ainda está nas comissões do
Senado aguardando nova votação após emendas. Apesar de não ser unanimidade, quem
milita nessa área acredita na interferência do Estado para ajudar a impulsionar
a solução do problema. “É uma medida que se faz necessária para que haja
prevenção. As crianças obesas de hoje serão os adultos obesos de amanhã. O
excesso de peso não complica só o coração, como geralmente se pensa, mas todos
os órgãos do organismo e até o esqueleto sofre. O lado emocional é o que mais
precocemente é impactado”, afirma o presidente do Comitê de Endocrinologia
Pediátrica da Sociedade Mineira de Pediatria, Antônio José das Chagas.

Os dados mais recentes da Secretaria de Estado de Educação, referentes a
2012, mostram que 2,2 milhões de alunos estão matriculados na rede estadual; 1,8
milhões na municipal; 34 mil em escolas federais e 730 mil alunos na rede
particular. Na rede pública estadual, as cantinas foram extintas, toda a
alimentação é fornecida gratuitamente e não há alimento industrializado. Na
particular, no entanto, as escolas ainda não conseguem cumprir a lei. A
fiscalização é de responsabilidade da Vigilância Sanitária de Belo Horizonte e,
segundo a Secretaria Municipal de Saúde, é realizada continuamente quer seja em
inspeções de rotina ou por meio de denúncias dos cidadãos. O telefone é o 156.

Infelizmente, a rede particular ainda coleciona histórias de mães e pais
insatisfeitos com a alimentação oferecida dentro das instituições. P. G. é
arquiteta, tem 39 anos e não quer ser identificada. Mãe de duas meninas, uma de
4 anos e outra de 2, ambas matriculadas em período integral, conta que, após
inúmeras conversas com a direção da escola onde as meninas estudam, teve que
optar por enviar o lanche de casa. “Do almoço eu não tenho queixas, mas o lanche
é complicado. A escola não tem uma nutricionista, consultam uma profissional
ocasionalmente, e o suco nunca é natural”, comenta. Além disso, segundo ela, a
instituição oferece ainda biscoitos recheados, embutidos e danoninho (não
indicado para crianças menores de 4 anos). De acordo com a Lei nº 18.372/2009,
produtos e preparações com altos teores de calorias, gordura saturada, gordura
trans, açúcar livre e sal, ou com poucos nutrientes são vedados nas escolas de
Minas.

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Fonte: Uai/Saúde Plena

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