O caracol vai se arrastando e formando sua linha, desidratada.
Uma mulher vai desfilando, com seu terço, sua linha forma um círculo.
E a sombra que vai ficando no caminhar, a linha ora alonga ora encurta.
E a ponte que quebra, impedindo o caminhar, a linha arrebenta.
O cachorro que segue o rastro do bicho que corre e outro bicho que cruza o caminho e o faro fica perdido entre um bicho e outro bicho. Cadê a linha?
O cansativo desenrolar do novelo. Só linha.
A parede de vidro ilude o passante. E a linha do olhar?
Sobre o caminho as formigas carregam folhas, sob o caminho outros tantos caminhos. Duas linhas.
A linha que se alinha, na mesma hora, chegou a hora do blem.blem.blem. E o pêndulo na linha.
Caminho de encontro, desencontro, de achado e perdido, de estar só sentado à beira do caminho. Na linha.
E a linha que divide a terra em duas metades, quem está do lado de cima ou do lado debaixo.
Um linha que vira o mundo de cabeça para baixo, é só um momento para a bebedeira.
E o caminho da corda que faz girar o corpo do menino que pula. Que linha!
E a linha colocada no buraquinho da agulha que engana o olhar da vovó.
E a linha do exame cardiológico que sobe desce sem parar e se parar, a vida cala.
E linha puxada do caminho do homem por outro homem.
E o palhaço que sobe a linha do círculo sem parar.
O homem quebra a pedra no meio do caminho porque no meio do caminho tinha uma pedra. E a linha se arrebenta.
A mulher que varre a sujeira para debaixo da linha. A linha esconde.
O olhar que enxerga duas linhas, em qual delas pisar com certeza?
Debaixo da linha o grilo observa a linha da borboleta. Linha frágil.
A linha do tonto que se quebra a todo instante.
E o nó da linha que impede o homem de caminhar. Linha que desalinha.
E os gêmeos que se olham através das linhas. Linhas diferentes.
O dedo que fura a linha e cega o olho do homem. Linha da pipa.
Regar os pontos para se alinharem. Linha semente.
A corda bamba pode arrebentar a linha a qualquer instante. Lindeza.
E o ziguezague da flecha no ar. Linha cortante.
Os carros que perdem a linha e caem aos montes. Desalinhados.
A linha entre o mar, o ar e a terra. Limite da linha.
A linha que segura o homem. Nó da linha.
A linha que prende o cachorro. Linha fatal.
A linha que sobe e desce. Linha bamba.
A corrida para recolher a linha do anzol. Alinhavar o peixe.
A linha engolida e arrebentada. Que indigestão!
A linha da bala que passa pelo corpo do menino. Partiu-se a linha.
A linha que segura o tempo se enverga. Linha amadurecida.
As linhas que escrevem todo dia. Caligrafia.
A linha do pássaro no horizonte. Linha voadora.
A linha que circula rodopiando no ar. Bolinha
As linhas que se revoltam e buscam outros caminhos. Linha da adolescência
A linha que escapa do novelo. Linha sem carretel.
A linha que se enrola no novelo. Linha indiscreta.
A linha do corpo e da mente, apenas uma linha entre a loucura e a razão. É só uma linha na literatura, linha da emoção entrando em ação.
Texto escrito pela Coordenadora Pedagógica Eliana Aparecida Prata em 14 de maio de 2017.