Redação adaptada para o vestibular da UFU

10 de novembro de 2017 - 09:46:00. Última atualização: 23 de julho de 2019 - 11:03:26

Uberaba, 30 de agosto de 2017.

Prezado professor Leandro Karnal,

Tenho participado, desde 2015, de um grupo de escritores paulistas, cujo projeto resume-se em arrecadar coletâneas de textos virtuais e expô-las no Museu de Língua Portuguesa. Realmente, impressionei-me com a semelhança entre o nosso trabalho e o texto publicado pelo senhor, que tão bem traceja limites à liberdade de expressão. Nosso principal objetivo, meu e dos meus colegas, sempre centrou-se em trabalhar a linha tênue entre a opinião e o discurso de ódio, que tanto se confundem nas publicações atuais. Como professor, deve conviver diariamente com os extremismos que se passam por liberdade de expressão entre seus alunos e que, não raramente, ofendem os interlocutores. O fato, professor, é que, de um lado, parece-nos faltar limites à construção de opiniões e, de outro, o entendimento da língua.

De fato, como escritora, e agora não trato apenas do meu projeto, de que já lhe falei, deparo-me com inúmeros casos de interpretações errôneas sobre o que digo e o que escrevo, haja vista que nós, você e eu, usuários da língua portuguesa, construímos e descontruímos opiniões o tempo todo. Noto, no entanto, que várias vezes o maior defeito não está no escritor, mas no leitor. A interpretação linguística é sim de suma importância em um contexto e, em muitos casos, os brasileiros não se desgarram do denotativo para interpretar uma ironia ou uma metáfora. Cria-se, assim, frases e “verdades” não ditas. A liberdade de expressão, professor, é um direito que existe e, como tal, merece ser bem interpretado antes de julgamentos.

É claro que, obviamente, o discurso de ódio é muitas vezes pensado e escrito. Nesses casos, o maior problema torna-se a mentalidade do criador das opiniões, que as compartilha sem limites. Em nosso projeto, notamos grande extremismo em certas publicações, principalmente naquelas ligadas à política e à sexualidade, em resumo, tabus sociais. A explicação, professor, está na história: a liberdade de expressão é um direito de bases relativamente recentes, ainda que não seja bem utilizada por alguns cidadãos. O fim da Ditadura Militar trouxe consigo o retorno da voz social, esquecida desde a primeira República. Como professor, deve lembrar-se do tempo em que mesmo a grade curricular de ensino era controlada, e as manifestações, duramente reprimidas. Não se sabe ainda lidar com limites que protejam a individualidade dos brasileiros, pois a ânsia de se expressar uma opinião é muito grande depois de tanto tempo de silêncio.

Concordo com o senhor é claro. Em tudo há limites e consequências. Já é hora de diferenciar o que é útil do que é ofensivo, para que possamos nos comunicar melhor.

Atenciosamente, Josefa.






Texto produzido pela aluna Júlia Barbassa França da 3ª série Ensino Médio a partir de uma proposta de redação adaptada para o vestibular da UFU.

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