Estamos em plena campanha do Setembro Amarelo 2022, cujo tema é “A vida é a melhor escolha”. Embora o maior foco da ação seja a difusão de informações e debate sobre a saúde mental e o suicídio em adultos, a depressão em crianças e adolescentes, por muito tempo ignorada ou subdiagnosticada, vem ganhando cada vez mais atenção nos últimos anos, principalmente desde o início da pandemia de Covid-19, que trouxe confinamento, ausência de convivência com colegas, professores, amizades e familiares, déficit de lazer e superexposição a telas.
Entretanto, também há outros fatores além da situação trazida pela pandemia, como: desequilíbrio neuroquímico do cérebro; problemas emocionais graves durante a gestação; histórico familiar de depressão e/ou demais transtornos psiquiátricos; tentativa de suicídio de familiares próximos; depressão materna; agressões físicas, verbais e morais no lar; excesso de cobrança; abuso sexual; cyberbullying; privação de sono; ausência dos pais; e limitação no tempo e oportunidades de brincadeiras ao ar livre.
É preciso que familiares e professores estejam atentos aos sinais e sintomas, que podem ser caracterizados por: expressão de sentimentos de culpa ou baixa autoestima; indecisão; dificuldade de concentração; distúrbios do sono; alterações repentinas do peso; distúrbios do apetite; agitação ou lentidão psicomotora; humor deprimido e apatia; ideação suicida, pensamentos de morte e auto injúria; e diminuição do interesse em atividades antes prazerosas. Em crianças menores de 12 anos, também há sintomas específicos, como queixas somáticas (dores, cefaleias e náuseas); choro frequente; comportamento de roer as unhas, lápis ou demais objetos; mutismo seletivo abrupto; dificuldades escolares; e comportamento opositor.
Deve-se observar se um ou mais desses sintomas ocorrem há mais de 2 semanas não só em casa, mas também em outros espaços frequentados pela criança/adolescente, como a escola, e se trazem prejuízo funcional e social. A depressão pode apresentar comorbidades, como quadros de ansiedade, uso de substâncias ilícitas (no caso de adolescentes), transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno opositor desafiador e de conduta, entre outros. O pediatra deve ser consultado para acompanhamento do caso, investigação e eventual diagnóstico, e estabelecimento do tratamento. A psicoterapia também é indicada, não só para as crianças/adolescentes, mas também para a família, junto de ações cotidianas, como a manutenção do diálogo aberto, organização da rotina de sono, limitação de tempo de tela conforme recomendações por idade, realização de brincadeiras ao ar livre e atividades físicas por pelo menos 60 minutos ao dia, e técnicas de relaxamento.
A rede municipal de saúde de Uberaba dispõe de um serviço especializado, que é o Centro de Atenção Psicossocial Infanto Juvenil (CAPSi). Mais informações podem ser obtidas pelo número (34)3311-5836. O importante é que a criança/adolescente esteja inserida numa rede de proteção e atenção integral formada pelos adultos, sempre visando o bem estar, a saúde e o bom desenvolvimento.